quinta-feira, 2 de abril de 2009

Os Produtores - Lisboa 28 de Fevereiro


Produtora nova, muitas dúvidas, preços absurdos e um erro colosal de casting foi o espírito com que fui ver o Musical Os Produtores ao Teatro Tivoli no dia 28 de Fevereiro. Já conhecia o Musical e sempre gostei dele. Como tal, a palavra que melhor descreve esta produção é: média.
Sobre o Elenco:
Como a Cherry é uma produtora recente, obviamente tinham de escolher nomes sonantes para os papéis. Nuns casos resultou, noutros não.
Como Max Bialystock, Miguel Dias é irrepreensível. Não era a minha primeira escolha, diga-se. Sempre que imaginei o Musical em Portugal, a cara de Max para mim era a de Herman José. Miguel Dias contudo não desilude, muito pelo contrário. Criando sempre grande empatia com o público arranca gargalhadas mesmo nas situações mais inesperadas.
Manuel Marques foi a escolha para o papel de Leo Bloom, o contabilista e depois sócio de Max. Ele como actor de comédia é muito bom. Como cantor nem por isso. Apesar de afinadinho, tem uma voz demasiado anasalada o que ao fim de um bocado se torna bastante irritante. Em palco, forma uma dupla gira com Miguel dias, porque praticamente são uma reinvenção do Bucha e Estica.
Rui Mello faz de Roger deBris, um encenador gay da Broadway mas que gosta de fazer os jornalistas crer que é hetero. Tinha visto o Rui na TV mas nunca foi actor que chamasse a atenção. Como Roger deBris ele foi simplesmente brilhante! Completamente de morrer a rir. Quando encarna Roger deBris a fazer de Hitler já não foi tão giro, mas mesmo assim, hilariante.
Rodrigo Saraiva encarna Carmen Ghia, o assistente super-gay de Roger deBris. O Rodrigo pula, dança, canta, salta, faz trinta por uma linha, mas nem é das personagens que tenha mais desenvolvimento. Contudo, faz um bom par com Rui Mello.
E agora vamos àqueles que foram completos erros de casting:
Pedro Pernas como Franz Liebkind, o alemão exilado que jura a pés juntos que não teve nada a ver com a Guerra. O Pedro pode ter formação, mas sinceramente não para musicais. O seu Franz era completamente desinspirado e uma tentativa falhada de imitar Will Ferrell (que fez o mesmo personagem no filme). Faltava-lhe credibilidade e o capacete de guerra dele mais parecia um penico de criança pintado de cinzento. Voz afinada e boa capacidade de dança, mas ficou-se por aí...
Custodia Galledo como Agarra-me, Dá-me Tautau. A Custódia faz o papel de uma das velhinhas que Max "come" para sacar o dinheiro para as suas peças. Pouco mais. É no fundo, mais um desperdicio no Musical do que um erro de casting.
E eis o meu grande problema:
Rita Pereira no papel de Ulla...a SUECA boazona (e sublinho SUECA). A Rita NÃO CANTA de todo. É bonita e tem um corpo bem torneado o que lhe valeu. E anda na moda, o que serve para atrair pessoas para o musical. Como não canta, o solo de Ulla, "When you got it, flaunt it" foi transformado num dueto onde Rita canta com Miguel Dias. Ora a grande voz do Miguel sobrepõe-se à da Rita e pronto, basicamente ela fica sujeita ao seu papel de "look hot". A peruca loira também não ajuda NADA. Ritinha, uma boa profissional pintaria o cabelo pelo menos ;) Mas enfim. Lado bom da Rita é mesmo o corpo fantástico que ela exibe durante todo o Musical e que dificilmente deixa alguém indiferente. A moça esforça-se, isso reconheço-lhe, mas sinceramente, Musicais não minha querida...
Quanto à orquestra, foi o ponto alto da tarde. 20 musicos na orquestra não é algo comum de ver em Portugal. Logo a musica soava fantastica. Já os cenários eram de um amadorismo primário. Eu sei que estou mal habituado aos cenários fantasticos do Filipe La Féria, mas quer o Cabaret quer o Sweeney Todd que não eram producções dele, tinham cenários melhores que estes Produtores. A encenação estava aceitavel contudo. Poucos momentos mortos, ideias giras para resolver o problema das mudanças de cenários...
Sobre a tradução:
As pessoas que me são mais chegadas sabem que este é para mim um ponto muito querido e importante. E este musical apesar de bem adaptado em termos de texto falado, estava fraquinho no que toca às músicas. Vogais extendidas para caber na metrica, traduções à letra mal conseguidas, rimas forçadas...enfim, algo não muito agradável para a minha pessoa. Além disso, canções como "King of Broadway" e "Old Bavaria" foram cortadas na versão portuguesa ao contrario de todas as versões de palco do resto do mundo.

O pior de tudo nesta produção não foi contudo os erros de casting nem a tradução. Foi sim o preço que a produtora cobra pelos bilhetes. 45€ pela primeira plateia é um ROUBO para a forma como este espetáculo foi apresentado. Porque se acharmos que estes 45€ são o preço aceitável, então vou ter de falar com o Filipe La Féria porque anda a cobrar muito pouco pelos seus espetáculos.
Como produtora nova a Cherry devia ter pensado em preços mais acessiveis para promover a própria editora em vez de querer cobrar tanto quando o público não a conhece. É que, num periodo de crise, este tipo de preços aplicado a um espetáculo com a baixa qualidade de Os Produtores, é um erro craso de marketing, especialmente quando só paguei 16€ para ir ver o Sweeney Todd ao Teatro Aberto e o espetáculo tinha o triplo da qualidade destes Produtores.
O resultado claro viu-se já: o Teatro está normalmente só metade cheio, e já houve sessões canceladas...
Em resumo, o musical é aceitável mas não vale de todo o $ cobrado. Por isso, só se forem fans de musicais como este vosso humilde servo ou não tiverem mesmo onde gastar o dinheiro é que vale a pena gastar o dinheiro para o ir ver. Caso contrário, vão antes ver o West Side Story que sempre aplicam melhor o dinheiro...